- Olhar da semana:
Foi bem há pouco tempo que tivemos conhecimento do aniversário da nossa cidade, o figueira olhar não poderia deixar escapar este acontecimento, foi assim que depois de alguma pesquisa, encontrámos guardado no passado uma figura bastante interessante, um apaixonado pelas artes, dando grande importância na sua vida à fotografia e ao cinema.
Para comemorar os 125 anos, salientámos então Manuel Santos, um figueirense do séc. XIX, mais que um habitante desta cidade foi alguém que fez da Figueira uma cidade nova, deu-nos a conhecer como tudo era antes, deu-nos a conhecer o seu olhar.
Manuel Santos nasceu no dia 5 de Junho de 1893, na residência dos seus pais, na Rua dos Cravos e da sua infância pouco se sabe.
Em 1918, quando o seu pai morreu, partiu para o Brasil deixando o negócio da família a cargo do seu irmão.
Manuel Santos pertencia a uma família de ourives, pelo que na altura tinha uma vida bastante estável em termos económicos e sociais, no entanto a sua família sofreu algumas perseguições políticas por apoiar o Liberalismo.
A sua ourivesaria foi fundada em 1820 na Praça 8 de Maio, a “ Joalharia Santos” que durante um século ficou nas mãos da sua família, passando de geração para geração.
Manuel Santos revelou o seu talento noutras artes, a sua verdadeira paixão era a fotografia e o cinema.
Quando regressa do Brasil, com 36 anos de idade, casa-se com D. Maria Luiza Guimarães que pertencia a uma das melhores famílias da Figueira.
Contudo, mais tarde, divorciaram-se mas o mais problemático foi o facto de Manuel não ter deixado descendentes. Nesta altura vivia numa situação económica menos estável e passou a residir na Rua dos Ferreiros.
Manuel era visto como um homem um pouco reservado e distante, um homem de poucas palavras, no entanto sempre muito reconhecido pela sua boa educação, pelo seu empenho nas lutas pelas causas que defendia.
Foi com o apoio de seus amigos, António Vítor Guerra e António da Silva Biscaia que Manuel Santos se dedicou inteiramente ao que mais apreciava na vida, a fotografia e o cinema.
- A Fotografia
“ Manuel Santos registou como poucos a beleza da Figueira da Foz. Os seus clichés ilustraram uma época de ouro desta cidade de veraneio. A forma particular como captou o encanto e particularidade dos recantos Figueirenses, tornaram-no promotor por excelência da imagem e propaganda turística da cidade e do concelho.”
Manuel Santos chegou a participar em diversos concursos de fotografia organizados pela Câmara Municipal e foi convidado inúmeras vezes para divulgar e promover a cultura Figueirense.
Não possuía qualquer laboratório para a impressão das suas fotografias, eram todas reveladas na Praça General Freire de Andrade, na Foto Liz. Manuel não cobrava nada pelo seu trabalho apenas a revelação das suas fotografias.
Após participar em diversos concursos, foi o próprio organizador dos mesmos pelo que foi sempre premiado pelo seu bom trabalho.
Para além dos concursos esteve envolvido na organização das festas de S. João, organizou o primeiro salão de estética na Figueira da Foz marcando a propaganda oficial e fotografia de cena e de cinema.
Desta forma, podemos encontrar ainda hoje, no Arquivo Fotográfico do Museu Municipal Santos Rocha, todo o seu trabalho, cerca de 4000 negativos em vidro e película e centenas de provas em papel.
È fácil desvendar toda a história da Figueira nas suas imagens uma vez que eram todas fotografias que retratavam os antigos bailados, festas, touradas, teatro, espectáculos de música, os monumentos, o turismo e a praia, o folclore, pesca, agricultura, indústria e comércio, etc.
Manuel Santos fez uma grande fortuna no Brasil, trabalhando como caixeiro viajante pelo que viveu até ao fim dos seus dias dos rendimentos.
Mais tarde, com o aparecimento de um novo fotógrafo António Cruz, Manuel Santos teve de se sujeitar às consequências das novas tecnologias e a sua produção artística começou a diminuir, uma vez que este novo fotógrafo possuía materiais melhores e como pertencia à aviação começou a produzir fotografias de panorâmicas aéreas.
No entanto, Manuel Santos marcou a nossa história pela sua criatividade, empenho e engenho, sendo o seu trabalho uma grande herança para a nossa cidade.
- O cinema
“ A Figueira da Foz tem também uma longa tradição, valorização e divulgação do cinema. A primeira projecção de uma película cinematográfica em sala de espectáculo nesta cidade, terá sido quase simultânea ao aparecimento da sétima arte (28 de Dezembro de 1895, Paris). A 15 de Agosto de 1896 foi projectada uma película, através do animatógrafo Rousby, no “ Teatro – Circo Saraiva de Carvalho”. A sala esgotou todas as sessões até ao dia 23 de Agosto. Tornou-se deste modo, a terceira cidade portuguesa, depois de Lisboa e Porto, a gozar desta experiência inebriante.”
Como já é de esperar, Manuel Santos foi dos primeiros a ter uma experiência cinematográfica na nossa cidade e registou diversos filmes sobre a nossa Figueira.
Um dos primeiros foi “ Figueira da Foz Rainha das praias Portuguezas”, onde está bem evidenciada a nossa extensa praia desde Buarcos até ao Forte e todo o seu movimento de Verão, salientou também as diversas actividades que se desenvolviam durante a época balnear onde os Figueirenses participavam, de entre os quais o Concurso Hípico, as Touradas, a Ginkana de Automóveis, as regatas de vela e remo, etc.
O filme foi apreciado e admirado por todos e o sucesso da sua produção voltou a ser exibido no “ Parque Cine” nesse mesmo Verão por ser considerado um filme que chamava o interesse não só dos habitantes locais mas de toda a população portuguesa em geral.
As provas náuticas eram o seu tema favorito e em 1930 volta a filmar as provas de remo, natação e vela que se realizaram na cidade.
Em 1931, o filme seria exibido em Espanha e mais tarde Manuel Santos é convidado para realizar novamente um filme na Figueira mas agora apoiando-se num romance ficcional, tendo como cenário a beleza da nossa cidade, ao filme deu-se o nome de “ Dois corações...Um destino”.
Apesar de tudo, o trabalho não chegou a ser concluído mas mais uma vez ficou provado o talento de Manuel.
“ Durante cerca de duas décadas, a imprensa local escasseia as referências ao trabalho de Manuel Santos, porque de facto pouco houve para noticiar dada a quebra na sua produção. A sua condição de amador, não lhe permitiu acompanhar os progressos técnicos que se processaram na indústria cinematográfica.”
- O Legado
A 16 de Abril de 1975, Manuel Santos vítima de doença acaba por falecer aos 81 anos.
Todos os Figueirenses sentiram a sua morte, reconhecendo o seu nome e a sua imagem, como uma imagem de talento, um homem que deixou o seu nome ligado à propaganda turística da Figueira.
Mais tarde, após três décadas da sua morte, o museu Santos Rocha, organiza uma exposição onde constam todos os seus trabalhos e a sua agenda pessoal.
È desta forma que comemoramos o aniversário da nossa cidade, deixando aos Figueirenses de hoje, a memória de um Figueirense do passado que por muitos pode estar esquecido mas não apagado, e hoje relembramos toda a história da nossa cidade com uma pequena demonstração do seu trabalho fazendo o contraste com o nosso olhar, o olhar da Figueira dos nossos dias.
Todos estamos sujeitos ao passar do tempo, às evoluções, às mudanças, e sem dúvida que o tempo muda, talvez no passado se valorizassem mais as actividades de diversão e entretenimento, deveríamos dar continuidade ao que os velhos figueirenses fizeram pela nossa cidade, não deixar que a beleza da Figueira da Foz se desgaste. Urge inovar, valorizar, promover e divulgar mais, ou muito mais, tanto quanto possível.
- Olhar Fotográfico:
Arquitectura
Aspecto da esplanada e escadaria.
Agosto de 1944.
Aspecto da esplanada.
Agosto de 1944.
"Idílio". Recorte da balaustrada da praia.
Casa do Paço da Figueira da Foz.
Casa onde nasceu o general Freire de Andrade.
Praça luís de Camões.
Local para a construção da Caixa Geral de Depósitos.
Palácio Sotto Mayor.
1942.
Vista da Figueira sobre as Abadias.
Ao fundo a Serra da Boa Viagem.
1939.
Buarcos e suas muralhas.
Março de 1941.
Estação. Caminhos de Ferro.
Máquina. Caminhos de Ferro.
Praia
"Ao fim da tarde".
Setembro de 1939.
Agosto de 1944.
Friso de guarda-sóis com nuvens.
Esculturas na areia, por Costa Júnior Escultor.
Julho de 1940.
Juventude
Jardim Escola João de Deus.
"Pirâmide de meninas"
Jardim Escola João de Deus.
Grupo Geral.
Escola Maria Correia.
Grupo de "fadas sentadas".
Escola Maria Correia.
Grupo de "pirilampos".
Dia da Criança. Concurso de bebés.
Setembro de 1943.
Dia da Criança. Gincana infantil.
Agosto de 1945.
Dia da Criança. Gincana na esplanada.
Agosto de 1944.
Dia da Criança. Gincana na esplanada.
Agosto de 1944.
Ginástica infantil na praia.
Espectáculos/Diversão
Casino Peninsular.
"Pátio das Galinhas". Entrada principal.
Casino Peninsular.
Sala de Jogo. Casino Peninsular.
Sala de Jogo, os Bailarinos Angela e Nico. Casino Peninsular. Fotomontagem.
A Revista "Águas de Bacalhau".
Conversas.
Grupo Cénico Caras Direitas. Buarcos.
A Revista "Águas de Bacalhau"
Nau Ctrineta.
Grupo Cénico Caras Direitas. Buarcos.
Grupo Filarmónico Figueirense.
Desporto
Remo.
Rapazes da Mocidade Portuguesa remando um barco de 8.
10 de junho de 1942.
Regatas.
Público. Cerca de 60 mil pessoas.
Rio Mondego
Concurso hípico.
Tiro aos pombos. Atiradores em conjunto e em concurso.
Setembro de 1945.
Tradições
"Rancho das Cantarinhas".
Buarcos.
Um par do "Rancho das Flores da Beira-Mar".
Mascote do "Rancho das Flores da Beira-Mar".
Cortejo Figueira d´ontem. Presépio.
Alcaides de Vara.
1941.
Festejos de S. João. Benção do Mar.
Actividades
Venda do peixe. Praia em frente ao Jardim.
Pescadores tratando das redes.
Doca.
Chegada de Bacalhau.
Navio Lusitânia.
Seca do Bacalhau.
Na descarga do sal.
1940.
Mulheres Transportando o sal.
Ceifa do arroz. Quinta do Canal.
Alqueidão.
Fabricação de corda em Buarcos.
Setembro de 1941.
Mulher fazendo bolos das Alhadas.
Adaptação do Livro( "Manuel Santos" a imagem de um talento).
Edição: Divisão de Cultura, Museu, Biblioteca e Arquivos Câmara Municipal da Figueira da Foz.
Coordenação de Edição: Guida Cândido.
COMENTE!